13 setembro 2016

FILOSOFIA: UMA MORTE ANUNCIADA?




Comummente se ouve dizer e está escrito nos livros que os gatos têm sete vidas. Apesar de a vida já nos ter mostrado que o desgraçado animal tem de facto imensas qualidades que lhe permitem quedas aparatosas, e outras vicissitudes acrobáticas, acontece que por vezes o bichano não chega a gozar da célebre quantidades de vidas e consequentes mortes.

O que deita por terra tudo o que definia o gato como um animal particularmente audaz, desafiador, temerário, lutador, e caçador exímio de duração garantida por umas quantas reencarnações que o tornavam peculiar, quase de outro planeta.

Mas o gato por muito que faça e pela quantidade de linhas escritas sobre ele em manuais especializados recordando a douta filosofia de Platão, não deixa de ser a sombra de uma ideia perfeita da gato, que não podemos ver, mas que a racionalidade e o pensamento nos podem mostrar. Deste modo, em todos os gatos que por aí vemos, sejam de que tipo forem, do tamanho que possuírem e peso, e a juventude ou o declínio de idade pesada, não fazem de cada um um gato próprio, mas apenas aquilo que é a ideia de gato perfeito.

Platão foi um dos pensadores mais fecundos do mundo filosófico, e a sua escola está directamente relacionada com o nascimento da filosofia. Ainda hoje, algumas das suas ideias e alguns dos seus conceitos podem ser observados na vida da humanidade, particularmente no homem.

No seu tempo a filosofia era o conhecimento, e contemplava tudo, desde a medicina, a astronomia, a matemática, a política, enfim, ser filósofo era estar no topo da pirâmide da importância dos homens.

O centro do interesse platónico e depois, pela vida do mundo fora, foi sempre o homem. E tudo que lhe estava ligado, desde o conhecimento, a arte, Deus, liberdade, moral, ética, virtude e tantas mais coisas que ao homem se associam e com ele demandam a busca da felicidade, a procura da vida boa. Platão dizia mesmo que o importante não era a vida, mas sim a vida boa. E não deixa de ter razão.

Depois de Platão uma interminável legião de homens de debruçaram sobre o homem, o seu mundo, os seus desejos, o que idealizavam e seguiam, as alegrias, as certezas, a esperança. Vou enunciar apenas alguns que me parecem marcar de um modo expressivo a evolução do pensamento filosófico, as rupturas, as contradições, e a sempre importante relação do homem com Deus, e a sua busca da felicidade.

Logo um discípulo de Platão, mas com uma teoria contrária à do mestre, Aristóteles, vem marcar por vários séculos o pensamento filosófico seguido pelos estudiosos. Podemos colocar em seguida dois importantíssimos homens do saber e que tiveram como grande empreitada conciliar na vida e no pensamento humano a existência de Deus e todo o ensinamento que nos foi legado pelo judaico-cristianismo, que teve a sua expressão máxima em Cristo, cuja influência ultrapassa dois milénios, sendo sem qualquer dúvida o homem que mais marcou a vida do homem na história da humanidade, falo de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino. S. Tomás de Aquino é o responsável por conciliar a filosofia de Aristóteles com a existência de um Deus exterior ao homem e criador de todas as coisas, eterno, omnipresente, omnipotente, teoria que vai condicionar o pensamento durante toda a Idade Média. Com o fim do obscurantismo das ideias e da ciência, do conhecimento de um modo especial e geral, do feudalismo, abrem-se as mentes, como se fossem janelas, que abertas deixaram entrar a luz, e entra o homem como centro do universo, e no homem se procuram novas teorias, se colocam em causa o que era conhecido e os racionalistas como Descartes, Kant e Hegel, vêm desafiar tudo o que era conhecido. O pensamento encontra caminhos amplos e uma liberdade nova e muitos se vêm a destacar, ou numa área especial do conhecimento filosófico, ou criando novas linhas de pensamento, rompendo, rasgando e criando de novo. Passaram nomes que não caem no esquecimento como Rousseau, Espinoza, Pascal, Montesquieu que deixaram marcadas teorias na história da filosofia. Depois tivemos dois importantíssimos pensadores, que vieram a ser determinantes na vida futura, Marx e Niestzsche. E entrámos no nosso tempo. Outros com o seu pensamento e a sua genialidade foram roubando conhecimentos exclusivos da filosofia e criaram novos ramos especializados e autónomos do saber, em relação aos homens e à sociedade. Aparece a Psicologia e a Sociologia.

E a filosofia que já foi tudo o que era conhecimento, com o desenvolvimento do mundo e do homem, com o desenvolvimento dos diversos ramos das ciências foi perdendo terreno. Nem seria possível aà filosofia manter-se com a astrologia de hoje, a medicina de hoje, a matemática de hoje, e tantas outras ciências que atingiram uma vastidão e um desenvolvimento que algumas, elas próprias acabaram por se subdividir tal o volume de conhecimento que abarcavam.

Mas a filosofia continua a ter estudiosos embora se encontre reduzida nas áreas em que se debruça. E ainda é ela quem melhor explica fenómenos ligados ao homem, como por exemplo a estética, a lógica, a ética, o que o homem precisa para ser feliz.

Creio que a morte da filosofia se alguma vez foi pensada por alguns vai ser uma realidade que obrigatoriamente, e de modo inevitável, acontecerá com o último homem. Até lá enquanto se pensar, se questionar, se tiver dúvidas, a filosofia estará bem viva.

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