11 dezembro 2016

SOBRE O AMOR E OUTROS LOUCOS E MARAVILHOSOS ESTUDOS ( I )






















Falar sobre o amor afigura-se uma tarefa não muito facilitada, afinal os maiores poetas, os maiores pensadores, os estudiosos das coisas da mente, já escreveram imensas definições, estudos, interpretações, modos de estar e de sentir, quando o amor existe no coração do homem.

Deixaria aqui um soneto do nosso maior poeta que nos mostra de uma maneira sábia, conhecedora, experimentada, e com a musicalidade poética que só a poesia tem, descrevendo o amor, e nos mostrando de um modo claro a complexidade que é possuí-lo, vivenciá-lo, tê-lo possuindo todo o corpo e toda a alma:



Amor é fogo que arde sem se ver ...


de Luís Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 















Esta poesia tem em si tanto de maravilhoso quanto de enigmático, e traduzindo o poeta ficamos divididos entre o ser e não ser, o intenso e a leveza, o que dói e se não pode sentir, a perca de liberdade para sair livre, é dar-nos ao inimigo, enfim, é tudo aquilo que em boa razão se não pode explicar em modos científicos, e acontece algumas vezes na vida dos seres humanos. Amar é ter no coração, e sentir em todo o corpo pois é tal e qual como o sistema circulatório que leva e traz do corpo todo ao coração e o seu contrário, é um estar vivo de modo diferente do que habitualmente era a nossa vida, é não ter barreiras e ao mesmo tempo estar aprisionado, é uma amálgama de milhentas coisas maravilhosas e fantásticas com momentos de angústia, tristeza, dúvida, incerteza.
Ouvimos o que Luís de Camões escreveu no seu célebre poema sobre o amor. A visão do poeta, do homem conhecido que foi um enamorado militante, que fez da sua vida mil e uma tropelias e correu riscos por seus intensos amores. Obviamente é um analista tendencioso, mas foi um homem que viveu o amor como poucos. Vamos ouvir um pensador filósofo que também escreveu nas suas obras várias vezes sobre o amor, esse, que ao contrário do poeta, viveu uma vida atribulada de amores impossíveis, pelo que acabou por sentir fortemente e impiedosamente o que é estar enamorado, mas não obteve o supremo bem de receber a almejada correspondência por parte de sua amada:

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.

O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são.

A sensualidade ultrapassa muitas vezes o crescimento do amor, de forma que a raiz permanece fraca e arranca-se facilmente.

A melhor cura para o amor é ainda aquele remédio eterno: amor retribuído.

A exigência de ser amado é a maior das pretensões.



Bastaria focar a atenção na última frase para perceber toda a importância e intensidade do amor na vida do homem, Nietzsche declara que a exigência de ser amado, de receber amor, de ter o direito maior, é entre todas a maior das pretensões do ser humano. E coloca o amor numa dimensão elevadíssima como expressa, e bem, que tudo aquilo que um homem faz enamorado, louco de amor, apaixonado, fica muito longe do que é o bem e do que é o mal, é algo que não cabe nestas bitolas, simplesmente as ultrapassa. E como o amor é loucura, diz-nos o filósofo, o homem apaixonado tem imensas probabilidades de não discernir em rigor, do mesmo modo se a sensualidade que rodeia esse amor o vai enfraquecer, levando a tornar-se quebradiço, a perder a potencia que vem da alma, e a morrer. O filósofo alemão reforça ainda a ideia da sua última máxima quando descreve com uma simplicidade simplesmente rigorosa que a cura para o amor só pode ser - o eterno remédio - de um amor retribuído. No fundo não existe contradição entre o aventureiro poeta português que levou uma vida atribulada precisamente por se ver envolvido em amores muitas vezes não permitidos, e o célebre filósofo que entre a sua obra imensa, em que que tudo questionou, tudo colocou em causa, e como um sistema novo, revolucionário avançou com a filosofia moderna, no que respeita a esse fenómeno que ataca a alam e o corpo do homem, o apanha, o suga, o escraviza, e lhe dá algo que parece inexplicável que arde e não se vê e parece estar para além do bem e do mal.







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