13 agosto 2016

SEM MUSA INSPIRADORA O POETA FICA SEM VOZ




Em Setúbal o poeta de meia tigela que vivia uma crise de vazio existencial e criatividade zero parece ter encontrado um trio de beldades fora do comum, imortais, e logo, o seu discernimento levou-o a considerar que a obra eterna, que não mais cairá no esquecimento, deve ser filha da inspiração de uma musa que além da beleza natural, deveria ter atributos acima daqueles que são normais entre humanos.

Daí resultou que o nosso homem dos versos de tanto olhar as três musas inspiradoras caiu na mais ímpia traição da alma, apaixonando-se ardentemente por todas elas. A fartura nas criaturas que lhe prometiam letras e palavreado sem fim, tornou-se a inimiga da obra, levando-lhe todo o tempo em radiante e absoluta contemplação de cada uma. Inspirado, logo saía a escrever talentosos poemas, quando encarava com a musa do lado, e um vazio lhe tocava, perdendo a inspiração que ganhara antes, e recomeçava de novo todo o olhar profundo, atento, enamorado, rendido à nova senhora do seu coração. E, quando inspirado se afastou, encarou com a terceira. Novo período de perda de capacidade inventiva e criativa, e nosso processo de assimilação de poesia, de encantamento.

Ainda hoje - consta - o pobre poeta meio louco continua a saltitar de musa em musa, vai perdendo a vida, e nada escreve depois de cada dia se inspirar uma imensidade de vezes. Parece mesmo coisa de poetas.







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