11 junho 2016

REQUIEM PELA LÍNGUA PORTUGUESA CAMONIANA





MORTE DA LÍNGUA PORTUGUESA

LUTO NACIONAL


Se eu fosse um músico empenhava-me seriamente em fazer um Requiem dedicado à morte da língua portuguesa tal qual se falou enquanto existiu Portugal e durante a minha vida. Mas eu continuo vivo mas mais vazio, me retiraram algo que fazia parte integrante de mim e que me orgulhava, Portugal continua país mas subalternizado não se entende bem a quem nem porquê, tendo hipotecado, ou vendido o seu idioma, a sua língua, a aniquilando a reduzindo a uma coisa que ninguém entende bem.

Há motivos imensos para o país sair às ruas vestido de luto. Camões, Vieira, Eça, Aquilino. Camilo, Pessoa, Saramago e tantos outros foram amputados, o que escreveram e nos devia dar fértil vaidade ou alegria imensa, passa a ser escrito com outras letras, com uma escrita que ninguém percebe bem o que é, nem donde vem.

Houve uns intelectuais, uns políticos, uns inteligentes que acordaram com todo o mundo e com ninguém, alterar a língua portuguesa passando a ser uma saladinha com muitos atributos, tantos que ninguém pode apoderar-se dela, chamando-a de sua. É um novo idioma, que nasce do português e é vítima de todos os atropelos inimagináveis que a reduzem a coisa quase nenhuma. Não é o idioma de Angola, nem de S. Tomé e Príncipe, não é o idioma do Brasil nem o de Timor Leste, não é o português de Cabo Verde nem o de Moçambique. É uma invenção. É um atentado. É um ultraje aceite por meia dúzia e que vai afectar todos.

Pensava eu que o Miguel de Vasconcelos tinha morrido quando foi lançado de uma varanda para a rua no Terreiro do Paço. Mas constatamos que ele não acabou, ele se catapultou em partículas que povoaram o mundo português durante séculos e quando se juntaram para atacar Portugal de novo, não foi, estou em crer ao serviço de Espanha, mas nem imagino de quem pode ter sido, e simplesmente destruíram uma das mais belas representações, símbolos, alma dos portugueses, e da sua história, a Língua Portuguesa.

Só recordo na nossa história outro acto tão vergonhoso para quem tem honra e sente orgulho em ser português, o cerco da armada inglesa a Lisboa impondo o fim do mapa cor de rosa. Londres, nosso primeiro aliado e querido amigo não aceitava que Portugal fosse tão grande e vinha à nossa porta nos subjugar, nos ameaçar, nos reduzir a pouco mais que um bando de cobardes inúteis. E lá se foi o mapa cor de rosa. E houve choro de raiva, e houve lágrimas. E todo um povo foi achincalhado, desprezado, humilhado e vergado pelas forças curiosamente do nosso melhor amigo.

Hoje os portugueses também podem vestir de negro, podem chorar, podem envergonhar-se, podem sentir-se ridicularizados, humilhados e mais uma vez vergados por amigos. A Língua é a alma de um povo. Cortam-na e o povo não pode se expressar. Não pode dizer o que lhe vai na alma. Ou então gesticula, faz arabescos, faz magia, que no fundo é o mesmo que nós temos de fazer quando escrevemos "fato". O que é isto? O que quer dizer? A que se refere? Quando falávamos como portugueses "fato" era fato, referindo-se naturalmente a um conjunto de peças de vestuário. Toda a gente entendia. Era claro, era português escrito e falado. Hoje "fato" tanto pode ser um vestuário como uma determinada ocorrência, que o português de Portugal designava, não dando aso a especulações, de facto.

Sem graça, ensinam agora que esse "c" não faz sentido, os nossos puristas indignam-se apenas de o olhar, revolta-se-lhe o estômago, têm náuseas. Mas o que pode dizer um resistente lusitano que lendo um artigo em português brasileiro (assim é conhecida a língua portuguesa falada e escrita no Baasil) quando encontra nele o tal moribundo "c", que tanto incómodo provocou neste cantinho à beira mar plantado.

Assistiu-se a mais uma triste palhaçada da história portuguesa, que infelizmente está recheada de imensas, fez -se o Acordo Ortográfico, que já entrou em vigor. Gostava de saber quantos subscreveram esse Acordo e quantos o estão a cumprir, a aplicar. Pobre país que sempre teve sentido de comédia, sempre deu aso a ser motivo de chacota entre os países desenvolvidos ou civilizados. Temos de facto criatividades que não lembram a ninguém. Somos únicos.

Pois vejamos, a Língua Inglesa é comum, quero dizer estandarte na Grã-Bretanha, Gales, Escócia, Irlanda e ainda nos Estados Unidos da América, ou no Canadá, ou na Nova Zelândia, ou na Austrália. Estes países fizeram um Acordo Ortográfico para serem todos iguais, tipo banda, ou o Inglês ainda é o idioma falado na Inglaterra e nos outros locais se fala o inglês com naturais influências que o tempo, a distância e as influências determinaram?

E o "castellano", a Língua de Cervantes? É do mesmo na Espanha, no México, na Argentina, na Guatemala, em Cuba e em outros tantos países onde o castelhano é o idioma nacional? Ou a Espanha abdicou de ter uma Língua sua, que desenvolveu com séculos da sua história, para ter um idioma igual para todos, também fizeram um Acordo Ortográfico?

Triste país este Portugal. Só foi grande quando um punhado de vezes teve no leme homens de qualidade acima da mediania. Foi-se a qualidade e ficou uma desgraça escanzelada que normalmente tem mau resultado e nos envergonha. Não temos meio termo. Ou atingimos o Sublime e nos tornamos heróis ou caímos por aí abaixo e o solo não nos chega, mergulhamos na escuridão e nem sabemos rigorosamente onde paramos.

Por isso temos mais de 800 anos de história. Mas apenas nos orgulhamos seriamente de uma dúzia de monarcas de algumas fases de grandeza e  luz, e na República grande parte daqueles que o povo escolheu para governar, ou decidiram por si, só são conhecidos por atrocidades, desgovernos, prejuízos, e vergonhas nacionais. Os Presidentes da República e os Governantes que estiveram à frente da Nação, grande parte deles, no que se refere a estes mais actuais estariam metidos na justiça como ocorre no Brasil tanta é a confusão entre ser e não ser, estar e não estar. E ter e não ter. Quanto aos antigos, ainda tinham alguma ideia de missão, ou de palavra, mas uma pequenez de espírito e acções tão sem graça que levava as Nações civilizadas europeias a nos equiparar com países como a Turquia.

Creio que a grande maioria do povo português é contra esta atrocidade que se fez na Nossa Língua Materna, no Nosso Português. Andámos a negociar com quem não devíamos pois cada povo tem a sua história, e a deve manter, e se orgulhar, e um idioma não se vende como sacos de farinha, ou barris de petróleo. Creio que este Acordo foi feito por gente morta, no espírito, na nacionalidade, no patriotismo, e os vivos, os que amam Portugal e têm orgulho em ser portugueses e o assumem nos cinco cantos do mundo, devem anular o que saiu empestado, bafiento, mortiço, do catre dos vendilhões da nossa Língua, e devem sair à rua, devem se manifestar, protestar, devem dizer sem qualquer tipo de receio que a Língua Portuguesa é dos portugueses, nasceu em Portugal e foi tornada universal por escritores e pensadores de renome que não podemos esquecer. Nós, filhos desta Pátria Portuguesa, que abrimos os olhos para a nossa Bandeira, aprendemos a cantar e ouvir o nosso Hino e nos conhecemos expressando-nos num português que temos na alma, temos de nos juntar, temos de unidos declarar que o que nosso é não se pode vender, não se pode trocar, não se pode negociar. A Língua Portuguesa é nossa, está connosco desde o berço, desde os primeiros passos, como a Bandeira, o Hino, o Presidente. Vendemos a Língua. A seguir o que vamos vender? A Bandeira? O Hino? O Presidente? E porque não nos vendermos todos? Pode ser que dê para pagar a dívida e ficamos sem história, sem honra, nem glória, mas podemos fingir que vivemos, debaixo dos pés de outros, vendidos por gente sem princípios e sem alma.

Não podemos ir por aí. Esse não é o caminho nem da liberdade nem da responsabilidade. Lutemos pelo nosso Português. Se não lutarmos pelo que é nosso o que andamos a fazer neste mundo?


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