11 maio 2016

O AMOR E O FIM (DEVANEIOS INIMAGINADOS)



Amor. Dois corpos abraçados






Recordo os ínfimos milhões de instantes que souberam edificar o sublime momento da descoberta do amor.

Era tarde, muito tarde. Noite feita. O quarto estava povoado por escuridão e sombras. E silêncios.

O amor que tinham feito destruíra em suor, em prazer, e numa entrega desalmada sem quaisquer limites, a unidade que cabia a cad um, até então, e acabava de construir um só corpo, e uma só alma.

Existia nessa sombria escuridão um só corpo, de dois feito. O abraço parecia não ter fime os corpos estavam unidos, ligadoscomo se acorrentados para um todo sempre. Parecia que jamais alguma coisda poderiaseparar o que acabava de se unir, e que o amor mais belo do mundo havia criado. Assim, na magia de uma noite, depois de muito tempo de um querer sem fim.

Ouvia-se o cair da chuva, que as rajadas de vento, em alguns momentos fazia deslizar nas viraças das janelas, no forma de milhentas gotas de água, e que musicalizava ritmadamente todo o ambiente ao cair ininterruptamente na calçada das pedras da rua.

Senti-me o homem mais feliz do mundo. Senti finalmente a paz. Chegara, por fim. Era consolo, era desejo, era uma conquista inimaginável. Acreditei que aquele momento era o catapultar para um futuro que valeria a pena viver. Desfrutar.

No dia seguinte quando voltaram a encontrar-se - após uma separaçaõ dificil entre mil beijos e abraços intermináveis - ela disse assim:

"- O que aconteceu ontem à noite, foi seguramente algo dse muito belo, e será inesquecível, mas não voltará a acontecer nunca. O nosso amor é impossível."

E tudo acabou precisamente quando parecia não poder terminar jamais. 

Foi um caos. Um desabar de sonhos. O castelo de areia que tanto levara a construir e tão pouco a desfrutar desfez-se em segundos. Foi, iamginava dentro de mim, o fim de tudo. Do mundo, da vida, do querer, do ser e do estar. Continuar parecia impossível e  o desinteresse por tudo invadiu um coração destroçado.

E, de tudo isso, muito foi passando, lentamente, com o decurso do tempo. Foi difícil. Foi brutal. Mas o tempo sempre foi um aliado. Um amigo. E meses depois existia uma recordação e menos dor. E noutro tanto de tempo para diante existia uma mágoa mais difusa e uma recordação menos constante. E anos depois, tudo se foi desfazendo, entre fugazes instantes em que parecia que era visitado por recordações e doía na alma, e períodos maiores de tempo em que parecia ter esquecido, e ia vivendo.

A imagem dela foi-se desfocando na memória até que chegou um dia em que tive dificuldade, desejando, em visualizar a sua imagem, o seu corpo, a sua face, os seus lábios e os seus olhos.

Lembrava-me que era muito morena, e tinha uns rasgados olhos profundamente negros, asáticos, que tão bem conjugavam com um curto e liso cabelo muito negro.

Mas o que nunca foi esquecido, foi o momento sublime, depois de fazer amor, os dois corpos abraçados, unidos, ali perdidos ou encontrados, na escuridão, em silêncio, entre cada um, um ao outro, escutando junto do bater dos corações, a chuva que teimava em cair lá fora, martelando na calçada, ou batendo ao de leve nos vidros das janelas.

Nunca se apagou da memória aquela paz, aquela entrega, aquele amor, aquela certeza na vida, num quotidiano balanceado ao futuro, e a todo esse tempo que seguramente não deixarioa de nos trazer e garantir felicidade.






Por isso, a partir daí, dessa noite, concebeu-se inconscientemente no meu interior um devaneio ou um delírio. Um sonho indestrutível, fortíssimo, que me posuía e que iria nortear toda a minha existência futura. Mas era um sonho porque lutar, um sonho para acreditar, um sonho para trazer sempre vivo, algo que me fizesse sujeitar a tudo e mais alguma coisa, que me anestesiasse, tudo suportando, valendo tudo, ultrapassando as leis da física, envolto em loucuras, audaz e irreverente, sendo temerário. Sem medos nem temores, sendo mesmo eu, e para além de mim.

Tinha que encontrar outra noite assim. Amor. Amor e paz. Dois corpos abraçados, entregues um ao outro sem sentir passar o tempo. E porque não o mesmo silêncio, uma escuridão semelhante, e a chuva se ouvindo cair em algum lugar doi universo.

Nunca desisti desse sonho, de encontrar a noite, de ter outra vez amor. Sentir-me amorosamente ambalado num manto sereno de paz.

A sorte de ter conhecido esse amor relâmpago, aparentemente efémero, mas duradouro em mim, ultrapassa largamente a aceitável infelicidade de se ter perdido de imediato, logo a seguir, e para todo o sempre. Quimera de ter sido um conjunto inexplicavelmente mágico de instantes, realmente vividos, sentidos, interiorizados, onde culminou um querer, um desejo, e um sonho de muito tempo, e apenas esses, infímos pontos de tempo, que nunca puderam ser esquecidos.

Trocaria todo o tempo que tenho de vida por outro conjunto de momentos iguais. Por uma simples parte de noite repleta de chuva, onde o amor voltasse a ser realidade, reunindo dois corpos num abraço fantástico, e a paz e os silêncios, fizessem acreditar de novo, que novamente, era para todo o sempre.

Esse foi o sonho ou a ilusão que orientaram toda a minha jornada por muito tempo e naturalmente influenciou e condicionou muito de mim, por muitos anos. 

É preciso trazer cá dentro de nós, no nosso mais profundo e belo cantinho do coração, uma chama, um pequeno fogo sempre a arder, uma luz tal qual candeia sirve de referência e permita levar uma vida perseguindo um sonho assim.

Hoje, a vida segue sempre mergulhada em profundas voltas e reviravoltas, no meio de novidades, de turbulências, de alegrias e tristezas, tudo é recordaçaõ que se não esquece. A magia permanece, mesmo depois da esperança que foi sua companheira ter desistido um dia, mesmo que pareça agora apenas um fenómeno longíquo e intangível, mesmo que agora pareça irreal.

Mas aconteceu. É um facto. Mas admito, hoje, com ou sem sonhos, com delírios ou com loucuras, com tudo isso, natural ou fantástico, que todos esses factos marcaram um marco numa vida e num coração. Nunca mais voltarão a repetir-se.

Hoje... até a capacidade para sonhar parece ter-se esvaído. Parece que abandonou, saiu fora, e o sonho quimérico perdeu a razão de existir. E, sem sonhos, sem chama, sem luz, o ponteirinho da bússola que firmemente apontava para um pontinho mágico, perdeu o tino, e descontrolado gira sem rumo.

Hoje, em boa verdade, perdido o sonho, sinto que deixei de viver e simplesmente existo.






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