29 abril 2016

CAMINHOS DE TERRA


O caminho faz-se caminhando


Dizem que cada um tem a sua própria cruz para carregar nesta rota que é a nossa vida. E, da mesma maneira que é fantasioso imaginar que os homens podem ser iguais, também devemos aceitar pacificamente que o tamanho e o peso da cruz que carregamos varia de pessoa para pessoa.

Os desígnios de Deus, dizem os entendidos em assuntos teológicos, são insondáveis. O que determina não haver sentido algum em tentar perceber ou explicar porque o fulano António, cuja vida foi pautada por comportamentos inadequados, e de quem pouca gente se aproxima ou relaciona, segue ligeiro e sorridente dia após dia, como se viajasse em automóvel de luxo em autoestrada, passando por todo mundo exibindo sua superioridade a alta velocidade.

A outros dói-nos a lama, gente boa, humilde, simples, temente a Deus, só acolhe desgraça atrás de tormento. É a saúde que falta, o alimento pouco, casa ruim, e cada dia que passa mais se avolumam as dificuldades, as dores, o sofrimento e a indiferença. Cada dia é mais penoso que o anterior, e o caminho da vida é um calvário, onde se pode imaginar uma cruz bem pesada e grande. Essa vida também é uma viagem, mas de pé descalço e num caminho de terra perdido das cartas de orientação.

Estes dois exemplos bem simples reflectem uma das grandes questões ou dúvidas que os pensadores colocam face à existência de um Deus, justo, que é perdão e ama os seus filhos. Ao teólogo não vão faltar um inúmero rol de justificações para todos esses casos do conhecimento geral, em que parece que o pecador leva boleia divina e goza a vida, e o justo, o crente, parece vítima de um qualquer mal que sobre ele paira, e está condenado a uma vida de miséria e desgraças.

O ateu vai alicerçar a sua indiferença espiritual, não crendo na existência nem de deuses, sejam de que género sejam, repudiam a religião como se fosse uma doença que atropela a visão humana, e o escraviza. E crê que depois da morte, igual a um outro animal existente, acaba se tornando pó, e mais coisa nenhuma. Depois da morte nada existe.

Cristo foi uma figura histórica irrefutável, e dele mal ou bem chegamos à Igreja que ultrapassa os 2000 anos de existência, representando para os fiéis católicos Deus, a Sua casa.Quer gostemos ou não a moral cristã é um baluarte na tradição intelectual do ocidente, e influencia a vida do nosso mundo de modo decidido. Cristo foi crucificado pelos romanos e entregue pelos judeus que o viam como um perigo público. Cristo anunciava o amor, o perdão, o bem, e foi com uma cruz verdadeira, pesada de  madeira que caminhou no seu último rumo de encontro à morte, arrastando-a perante a indiferença e o divertimento de muitos populares. E, contam os evangelhos que quando estava pendurado na cruz, entre dois criminosos também crucificados, um deles disse a Jesus; " quando chegares ao céu lembra-te de mim", ao que Jesus moribundo, respondeu; "ainda hoje estarás comigo no reino de meu pai".

Ser ou não cristão, reconhecer ou não a existência de Deus, é sobretudo uma questão de fé. Discutir a fé é simplesmente uma perca de tempo. Não se pode discutir, ou se tem, e se sente dentro de cada um, ou não se tem nem se sente.

Estas reflexões são perfeitamente matéria para a qual não tenho qualquer preparação. Não possuo conhecimentos teológicos, nem tenho a Bíblia ou os Evangelhos sabidos de cor. Mas sei uma coisa, já vivi sem Deus e esquecido andei por onde quis e me apeteceu, e fiz o que me deu na real gana. Mesmo assim, ninguém pode contestar que em muitos passos e procedimentos que tomei lá estava a marca da moral cristã. Mas quando vivia sem Deus sentia como que uma amputação de algo em mim, um vazio, uma mancha escura, a ausência de caminho. Tudo terminaria sem nada, bastava estar vivo, e no segundo depois era cadáver. E sentia-me só. Quando ia nesses caminhos da vida fosse por onde andasse parecia faltar-me sempre alguma coisa. Ia incompleto, solitário, inseguro, temendo o dia seguinte, ou o fim.

Com Deus no coração nunca existe solidão, se ultrapassam melhor as crises, o sofrimento parece menor, as forças resistem mais e dificilmente quebram, o ser cai mas volta a levantar, e o dia seguinte nunca é uma ameaça. Quanto ao fim, ele simplesmente não existe. Apenas mudamos de caminho, deixando para trás a lama e a terra e entrando num mundo imaginário onde não existe o mal, e onde existe uma paz para sempre.


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