13 abril 2016

INTERPRETAÇÕES MEDICINAIS







Boa tarde amigos, desejo que pelas vossas bandas paire num céu azul um sol doirado e quentinho. Aqui em Portugal, mais precisamente em Portalegre faz frio, e chove, e a cor do céu não mostra o tal azulinho que tanto alegra o coração dos portugueses.



Hoje vamos falar de uma coisa que todos temos de fazer, mais ou menos vezes, em cada dia, e faz parte natural da nossa relação quotidiana com a sociedade a que pertencemos, com aqueles com quem lidamos e podemos mesmo acrescentar, dada a evolução técnico-científica avassaladora sempre em desenvolvimento, com o próprio mundo.




Falo de uma coisa que todos fazemos e pensamos dominar pois é tão natural quase como as mais diversas necessidades básicas do homem.




Amigos hoje falo de INTERPRETAÇÃO.




Se perguntarmos à maioria das pessoas com quem nos cruzamos a diário se tem dificuldade em interpretar textos literários, declarações, relatórios, correspondência e meios de comunicação social como revistas ou jornais, grande parte dirá que o faz normalmente sem grandes dificuldades de maior, sendo certo, que de vez em quando um palavrão menos corrente, ou uma frase não usual ou mais técnica podem nos atrapalhar por momentos.




Isso é normal, nenhum ser humano é perfeito e embora estejamos a falar em interpretação na língua materna, ou no idioma de cada um, é impossível conhecer o significado de milhões de palavriado que colocam em dicionário para nosso desespero.




Mas precisamente para ajudar o leitor, independentemente do seu nível de cultura ou o seu grau académico, uma olhadinha no dicionário costuma resolver a dúvida que determinada palavra nos suscita.




O problema parece insanável é quando nos atrevemos a querer interpretar matérias inacessíveis ao comum mortal, pela pretensão do mesmo em querer descortinar o sentido de palavras que parecem comuns mas numa perspectiva científica, isto é, limitada a uma classe de eruditos, significam algo diferente.




Isso de querer entender gente intelectual que trabalha com o conhecimento científico tem riscos e pode mesmo levar a chamar de burro a atrevido o que quer saber do que, afinal nada sabe. E pode ser bastante prejudicial para o "inculto" se me permitem a expressão, pois ai retirar da expressão lida o resultado de interpretação que todo o mundo faria, cai num erro que lhe pode trazer tristes consequências.




É que nós, as pessoas normais quando estamos a ler por exemplo o jornal, vamos interpretando de acordo com as palavras que estão nele impressas. E para nós, que não conhecemos outro modo de ler, lido, interpretado dá o conhecimento da notícia. Está correcta a interpretação e chama-se INTERPRETAÇÃO LITERAL. O que nós fazemos, interpretar palavra a palavra o que lemos.
Mas como dizia existem algumas classes de eruditos que manuseiam complexos textos em que interpretar o que está escrito pode não ter o significado que realmente parece ínsito nas palavras escritas. É um imbróglio. E, naturalmente já não é coisa de um vulgar ser humano.
Por exemplo, no direito, advogados existem que têm dificuldade em interpretar as leis. E existe mesmo um rol de regras para que o jurista consiga extrair da norma que acaba de ler o significado correcto. Logo, se o nosso advogado não sabe interpretar leis, que segundo os senhores doutores professores de direito não é coisa para todos, corremos o risco de perder um processo por má interpretação e daí acumular um real prejuízo.




Ele há que estudar não só as palavras expressas mas também, como que penetrar na cabeça do legislador - o que escreveu a lei - pois o mesmo pode, admite-se como humano nos juristas - ter dito mais do que pretendia, ou ao invés, escrito menos, e depois ainda se tem que olhar aos meios e aos fins, considerando que uma regra que permite os meios não faz sentido se não permitir os fins e o contrário. Enfim, uma baralhada que pagamos a peso de ouro, pois as leis são normalmente mal feitas, ou porque o legislador matreiro quer deixar nela um rabinho de fora para a tal interpretação acessível apenas a alguns, ou porque subtilmente os governos encomendam a feitura das leis a escritórios de advogados com quem existem interesses comuns. Outra baralhada e nada ética.
Mas a interpretação mais difícil que conheço é a dos médicos. Confesso que não tenho qualquer conhecimento na metodologia interpretativa dos complexos compêndios de ciência médica, ou de relatórios de especialistas em diversas enfermidades. Desconheço se como os advogados existe um grau de interpretação limitada aos discípulos de Hipócatres, com preceitos de entendimento e tradução das leituras da área, e se procuram e de que modo alcançar algo que exista escrito mas possa ter interpretação distinta.




Para não me alongar vou contar um caso singelo. Um doente submete-se a uma Junta Médica onde três médicos, todos Autoridade de Saúde, de seriedade acima de qualquer suspeita, experientes, pronunciam-se no sentido de que o doente está melhor, quando no relatório do especialista este menciona que o doente se encontrava PIORADO.




É difícil ser médico, todos sabemos que são gente inteligente e escolhidos entre a elite académica, por outro lado dado que trabalham com gente diminuída, frágil, doente, vão acumulando ao longo da sua vida profissional um humanitarismo que poucos grupos profissionais entendem. E ainda por cima, não bastando as actualizações que sempre são forçados a fazer, normalmente em estâncias turísticas, para se manterem na crista da onda, perdão quero dizer, para se manterem actualizados, ainda têm que enfrentar em cada dia, para serem rigorosos e sábios, uma interpretação, que deixa a dos homens de leis a anos luz.




É que o médico para fazer um trabalho eficiente e notável e interpretar o estado do doente, pode ter que decidir precisamente ao contrário do que os documentos que tem de interpretar lhe parecem indicar. 




Para terminar vou ser objectivo, consultei o Grande Dicionário Encicolpédico VERBO onde se não encontra a palavra "piorado" mas outras da sua família, digamos assim. Menciona PIOR e comparativamente elucida (ir de mal a pior: piorar cada vez mais:), PIORA acto ou efeito de piorar, PIORAMENTO piora, PIORAR tornar-se pior, mudar para pior estado, agravar(-se). Pioria facto de ser ou estar pior: estado ou qualidade de pior: piora; o que há de pior.




Por fim, e depois de quarenta anos de trabalho perto de médicos, percebi a enorme complexidade da ciência médica, muito mais clara agora, quando têm um código interpretativo exclusivo da classe, que não parece acessível ao público, e deve ser de um grau de dificuldade bem maior que o Tratado da Natureza Humana de David Hume.




Mais díficil que diagnosticar, tratar ou curar uma doença é o acto médico de interpretação. Nunca tinha imaginado que um doente podia morrer de má INTERPRETAÇÃO.




Enfim, temos de estar gratos aos médicos que se dedicam ao bem comum e têm de lidar além das maleitas e desgraças do ser humano com um compêndio interpretativo no mínimo ou codificado, para que o comum mortal não possa interpretar, ou irracional.




Espero não os ter maçado. a meio da tarde com este tema que parecia tão simples e acessível como a interpretação de palavras, frases, e textos. Engano...





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