17 janeiro 2012

Afinal, eu nem sequer estou louco...


Sem qualquer inspiração, hoje, sem sonhos nem delírios, nem aqueles fantasiosos rasgos de magia que possivelmente nunca acontecem mas em que acredito, limitei-me a tentar perceber o porquê de muitas cosas que se têm passado ultimamente.

Nem isso foi possível. Existe um bloqueio, que nem sequer me assusta, imagino que tudo o que tem que ver com criar ou pensar terá as suas alturas mais fecundas. E depois de alguns dias em que parece venceram os tais ditos maravilhosos rasgos de imaginação, ou loucura, (tudo deve colocar-se) rendo-me à minha situação de bem simples mortal, pequeno, insignificante, que pouco sei, e cada dia me apercebo que mais dúvidas tenho.

Deste modo, ainda me esforcei, pensei no mar, mas o achei longe demais, e o frio deste inverno sombrio afasta a leviandade de imaginar que passeio à sua beira ou me aproximo de uma praia, olhando as ondas, e imagino o outro lado do mundo.

Ainda pensei que tinha um amor, uma princesa ou rainha, ou mesmo sereia, talvez uma deusa, ou aqui, ou ali, neste lado do mundo ou no outro, em qualquer lugar do cosmos, mas só percebi no coração o gelo de mil silêncios, o abandono e a solidão. E sentir isso, a juntar ao frio do tempo, tolheu-me creio, quase todos os sentidos.

Não consigo inventar, nem imaginar, nem criar, e muito menos crer que estou metido no meio de um instante de fantasia, onde, distraído deste mundo cada vez mais desumano e louco, possa desfrutar de uma fuga ao real, e perder-me em fantasias.

O melhor é esperar que esta angústia, que este vazio, que esta solidão, vão passando, assim, como se num simples toque da varinha de condão, tudo, num repente insólito, se revolucionasse de modo a fazer, estar e ser, numa outra vivencia.

De manhã, saí de casa. A minha estrelinha voltou a não aparecer - que ia para os lados da serra - e não voltou. Anda divertida com a sua nova amiga, e calculo com grande dose de probabilidades de acertar, andará, irresponsavelmente na galhofa e na brincadeira. Nem levo a mal, há tempo para tudo, para amar e para morrer, e por que não para distrair por aí.

Nem sei, a bem dizer, se a estrelinha encontrará alguém, nesse mundo fora para olhar, que possa bem receber, ou mesmo querer, as minhas infantis e fora de época, atenções, ou mesmo, essa mão cheia de beijinhos de ar e sonho que ela transporta.

Temo que sem sonho, o dia não receba sol. Nem calor, nem energia. Estou meio morto. Mas tinha de fazer alguma coisa. E fui por aí, estrada fora, sem nada pensar, olhando, caminhando, indo, ao sabor do acaso. A um dado momento, percebi que não caminhava sozinho, mas não ouvia ninguém, nem passos, não via gente, nada. Parei.

Olhei o alto, ouvi qualquer som que vinha daí, e tive de sorrir. Bem colocadas, entre os ramos das árvores que acompanhavam o caminho, lá estavam, brilhantes e sorridentes as duas estrelas. A minha e a sua amiga e companheira. Brilhando. Afinal, pensei, eu nem sequer estou louco, tenho mesmo uma estrela, que brilha, que tem luz, e não vivo somente enredado em sonhos delirantes e coisas do outro mundo.

Afinal, sempre tenho uma estrela, e sou gente, e sempre posso ter o tal amor, em algum lugar da terra ou do mar, e ser feliz. Tenho a certeza, tudo isso é possível. Tão certo, como a estrelinha a brilhar ali, bem à vista de todos entre as folhas das árvores.




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