25 abril 2010

Flores para um Abril distante...


Parece longe um Abril que nasceu prometendo mundos novos e novas liberdades. As flores de então polvilharam todo um imaginário que parecia simples e cheio de cores, de alegrias, de uma serena mancha de contentamento que parecia resistir aos ventos do passar do tempo. Parece longe esse encantamento que a todos tocou e que a pouco e pouco foi desaparecendo. Distante estão os sorrisos, mais longe ainda o cravo no cano da espingarda, as gentes que sairam às ruas, renovadas, com animo, com esperança, e junto dos soldados, salpicaram Lisboa de canticos novos. Longe quedou-se a esperança que um país renovado saberia afugentar as maleitas antigas, e resistiria a outras novas, mantendo-se livre, de todos e sendo de paz e de justiça. Para todos. Foi-se a esperança, murcharam os cravos, os cartazes prometendo a paz, o pão, a alimentação e a saúde perderam as letras, as cores, e jazem esquecidos longe dos olhares. Voltou a sensação de que viver é arrastar sacrifícios, ver injustiças, sentir revolta, mostrar-se impotente, e deixar que os dias, vazios de promessas, secos de esperanças, frios, ocos, passem, sem que ao menos se dê por eles. Abril vem em cada e em todos os anos, cada vez mais silencioso, menos colorido, menos sonho, e mais uma revelação cruel igual aos demais meses do ano. Precisam-se flores para um Abril distante, é urgente voltar a sonhar e sobretudo a crer que muitos sonhos podem realizar-se. Tragam flores, revoltem-se em gritos e canções reinvindicando futuro, querendo que o presente de hoje, seja igual ao de Abril, preparando o estio, a liberdade quente, a corrida aos milhentos desejos que só quem sabe crer e sonhar pode visualizar. Longe estão os cravos de um Abril cravejado de ilusões, longe está a liberdade alicerçada em direitos e responsabilidades, em liberdades e conquistas, em vida, digna, sã, com o tal pão, a habitação e a paz. Dizem que a liberdade já passou por aqui... Tragam flores, tragam flores para este Abril.

18 abril 2010

Foi a tempestade que te levou...




Tudo caiu para cima de mim
O mau tempo e o teu desdém
A chuva e os ventos e o vazio
De sentir-me irremediavelmente desprezado
E os silêncios de uma condenação a estar só

Veio o vendaval, vieram os relampagos
Os sons furiosos em sobressaltos nos céus
Águas milhentas salpicadas com gritos e fúrias
Sobre mim

Enquanto deixava de ouvir segredadas
As palavras com que antes me saudavas
Perdia o sorriso com que sempre me recebias
E deixava de sentir o abafo teu, o teu toque

Foi a tempestade que tudo tragou
E me deixou para aqui, só,
Enquanto entre a luz e o ribombar
De milhentas lutas revoltas no céu
Perdia, sem remédio,
O sabor dos teus beijos
E o calor de um abraço teu

Foi tragédia, foi cataclismo
Foi infernal hecatombe, fim de tudo,

E no meio de uma formidavel tempestade
Entre águas e ciclones, puxada de mim
Te perdi para sempre
E entre a escuridão e as sombras perdidas
Aqui estou só e sem ti,
No escuro, ao vento, à chuva, só. Sem ti...




15 abril 2010

Um dia parti




Um dia parti
Rumo ao desconhecido
Levando comigo a força de uma guerra sem fim
E de um sonho teimoso desejando existir
Sempre

Um dia com o anoitecer
Com as sombras envolventes e os vazios ao meu lado
Subi mais alto que as nuvens dos céus
E dali, bem lá na alturas
Abracei as estrelas,e pisquei o olho à lua
Que me observava inquieta.

Um dia quis acordar
Mas percebi desse querer, e de tentar,
Que efectivamente nunca tinha estado ali,
Naquele espaço demasiado pequeno e estreito
Nesse mundo apinhado e à deriva
Catapultado entre galácteas e corpos
Que é o lugar da vida de todos nós.

Um dia quis partir
E acordei, de um inexistir permanente
E pulei desejando ultrapassar o delírio
De uma obssessiva e vitalícia ilusão
Ou simplesmente, de um vago ser ou estar,
Buscando mais que a descoberta
De algo que pudesse encontrar
Fora de mim,
Pudesse paulatinamente
Como num acordar prioritário
Tocar-me, e olhar-me
A mim mesmo.

Em busca de mim
à procura de um existir
Que se desconhece como real
Mas que cremos é verdadeiro
Parti. Em demanda, à descoberta
Em peregrinação
Em viagem sem fim
Procurando encontrar bem no fundo
A razão de tudo
A essência
Um pouco de mim.

Um dia parti...





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