08 fevereiro 2010

O nosso ponto... de encontro


Entre a teia da aranha disfarçada num lugar inacessível, onde a predadora espera friamente a incauta vítima, e o labirinto de galhos que em todas as direcções se entrecruzam na espécie de árvore que é a nossa vida, existe, na complexidade de figuras, de quadros, de vias, uma semelhança que não deixa de nos fazer reflectir nos milhentos perigos, que nas duas exposições se projectam.
A terrível aranha edifica laboriosamente essa intrincada teia, essa espécie de rede de perdição, onde se vai perder um qualquer bicharoco, que por ali, naturalmente deambulava.
Nas ramificações da aparentemente desorganizada vidovia, tal qual na teia de seda, encontram-se ocultos perigos, dificuldades, tensões, circula-se aí, muitas vezes inconscientemente, desafiando as leis da física, e defrontando desabrida ou irresponsavelmente a própria morte. Cada passo, cada momento, uma paragem, um tomar de fôlego, um quedar-se para ver, ou somente estar, podem traduzir-se num instante carregado de dramatismo, num momento de perturbação, num confronto entre uma realidade que repentinamente se nos pode revelar das piores formas. E tudo isso, quando tranquilamente, caminhamos, igual a todos os dias, do mesmo modo, por locais que nos parecem familiares, onde tudo se nos afigura rotineiro e pacífico.
A vida, nessas veias ecurecidas que marcam todas essas ruelas por onde viajamos, não é mais que enfrentar a multiplicidade de desafios, que optar en cada cruzamento, em cada entroncamento, onde nos é possível fazer escolhas, decidir, escolher, num vazio que nos leva ao futuro, a fortuna de transitar na rota premiada, ou uma penalização porque se não soube, no momento certo, virar para a avenida do nosso encantamento.
Alguns caminham tendo como objectivo chegar a um determinado ponto da nossa árvore, tomando em cada momento a decisão que parece a mais acertada para, nessa direcção, ali chegar, e desse modo, realizar, de modo consciente um acto querido ou a execução efectiva de um interiorizado ideal.
Outros, sabem que a direcção é uma, mas nem sempre tomam as vias mais curtas, ou mais seguras, perdendo-se, em atalhos, em contratempos, mas seguindo sempre, crendo, a maior parte das vezes da oportunidade das suas escolhas, e da certeza de chegar. Mesmo que o caminho seja semeado de ziguezagues, de voltar a trás, de espreitar, de mil hesitações, uma vontade e uma força inexplicavel, parece arrastar o indivíduo para o seu fim, mesmo as mais das vezes, pareça que não se empenha em avançar. Mas avança, defronta perigos, pontos desconhecidos, lugares sombrios, mas sempre termina por descortinar a luz e segui-la.
Alguns, nunca vão entender como circular em segurança entre essas milhentas ramificações da carta da nossa existência. Vão olhar, vão sentir-se perdidos, desorientados, e a cada debruçar sobre os ramos, vão responder, por desconhecimento ou impossibilidade de escolha fundada, tomando de assalto, sem qualquer sentido, desde as mais amplas avenidas que seguem rápido para o outro lado do seu lugar, distanciando-se dos objectivos, ou entrando em becos solitários, em ruelas escuras, perdendo definitivamente a sua ideia de norte.
E a vida de cada um é composta de milhentos momentos que se sucedem, de imensos lugares de encontro, sitios onde descansamos serenamente para em seguida retomar o caminho do lugar seguinte. Vamos conquistando as nossas praças fortes, onde nos alimentamos, onde revigorados, preparamos uma, e outra, e muitas mais caminhadas. Vemos castelos, palácios, atravessamos prados, e por pontes seguras atravessamos cursos de água. Vencemos montanhas, vales, cautelosos atravessamos frondosos bosques, e temerários pulamos entre as ondas esverdeadas de agitados mares. Temos de desviar o olhar de inúmeras tentações que existem somente para nos desviar do rumo, e nunca podemos ouvir o canto das sereias que seguramente nos condenariam a um género de feliz morte. Não podemos parar. Não podemos desistir. Temos que habilmente escapar de aranhas escondidas e que esperam filar-nos como seu veneno à nossa passagem.
O mundo é como uma teia de aranha, e nós não poderemos nunca permitir-nos ao luxo de baixar as guardas, seguir distraídos, perder-nos nas teias mortíferas onde poderemos cair. Os ramos da nossa árvore levar-nos-ão, momento a momento, passo a passo, ao ponto de encontro, a esse lugar para onde devemos dirigir o noso caminho e onde poderemos encontrar, por fim, a tão almejada felicidade.
Aí, chegados a esse lugar cheio de fantasia, acabaremos por perceber que o caminho nem sempre foi fácil, mas se nos dedicámos, se nos empenhámos a sério, se fizémos sacrificios, valeu bem a pena desafiar e ultrapassar os obstáculos, encontrar e defrontar as inúmeras aranhas que ao longo da nossa vida não deixarão de tentar barrar-nos a jornada, e atingir-nos com o seu veneno, e que não foi em vão percorrer todo esse caminho muitas vezes labiríntico e cheio de perigos.
O mundo é uma bola, existem aranhas, serpentes e outros animais, selvas, caminhos, pontes e praias. A bola está sulcada de veias, parecendo um coração onde o sangue jorra violento buscando vida. E nós, em busca da nossa liberdade, tratando de garantir o nosso existir, temos de seguir viagem, defrontar os perigos, fazer as nossas escolhas. Um dia, bem vermelhinho, explodindo de calor, de fulgor, de promessas sem fim, entraremos triunfais nesse pontinho rubro do nosso ponto de encontro. Com o mundo, connosco, com a vida. O nosso ponto... de encontro.

1 comentário:

Sanny disse...

Meu querido Pedro, tu ainda nem me conhece, mas só hoje, a procura de uma idéia que me falasse sobre esse mar que une a separa, é que por felicidade minha encontrei esse teu blog, onde há tantas coisas lindas de se ver e ler.
Parabéns meu querido, está tudo muito perfeito.
Não precisa aceitar esse comtário, mas se desejares ter mais uma amiga me adciona no mesn que é: eu.san@hotmail.com, ou me escreve algo no meu e-mail que é: sannyrib@gmail.com.
Beijinhos, espero um contato.

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