02 fevereiro 2010

Estás para lá de tudo... ventos, céus, estrelas




Corro, olhos no céu
No jardim pálido onde me fiz prisioneiro
De um sonho cravejado com as luzes
Com o brilho incompreensível
E enigmaticamente impenetrante
Dos teus olhos

Corro, desvairado, de árvore em árvore
Como se de uma bandeira estivesse sequioso
Para levantar e acenar aos mundos
Para assinalar esta dependencia
Esta prisão de olhos levantados em busca
De manter-me sempre teu, escravo,
Submisso, vergado ao peso de um amor
Que nem sei bem se existe ainda.

Os ramos desnudos, hirtos, gelados
Apontam caminhos, desejos entre-cruzados
Labirintos onde se perdem beijos e abraços
Mas onde escuto em sussurro o respirar ofegante
Que sempre parece saltar de dentro de ti
Quando me foges.

Os ventos há muito perderam o sentido
E impetuosamente, com violencia, e dor
Exibem contorcionismos de raiva, e de fúrias,
Inibindo, afastando mesmo, a imagem, a sombra
Desse teu corpo, desse curvilíneo amontoado
De promessas nunca cumpridas.

Continuas para lá de tudo, de ti mesma,
E longe de mim, tanto, que as estrelas no seu brilho
Há muito deixaram de mostrar esse sorriso
Essa sedutora luminosidade do teu olhar
Brincando nas alturas, entre as rebeliões celestinas,
Com insignificantes explosões descontroladas
De coloridas pintinhas de sensualidade e desejo.

Recuso libertar-me da tirania dessa ideia de ti
Porque imaginar-te assim, por detrás do inexistente
Faz-me bem, faz-me sonhar, creio mesmo que existes
E sorris, mesmo que a sombra do nada te oculte de mim
E que o calor do teu abraço pareça uma gélida rejeição
E que mesmo esse toque, as mãos dadas, os dedos
Não sejam mais que os ramos ressequidos
Das árvores do meu jardim esmorecido de quimeras
Querendo perder-se em direcção do vazio.

Estás, teimosa e provocadora te mantens
Para lá de mim, e de ti,
Num alto que já não vislumbro, longe,
Para lá dos ventos, que já não me abraçam
Para lá do céu que esconde o sol de um amor perdido
Para lá das estrelas ténues, mortiças, onde não estás.

Mas continuo por aqui, neste jardim prisão
Recusando esquecer ou perder o sonho de um dia
Ou de tempos e espaços sem limites
Onde ainda creio, vou encontrar-te
Por detrás dos ramos das árvores do meu jardim
Vinda desse teu mundo, braços abertos
Sorriso, calor, sonho, ternura
E nos aprisionaremos em algum lugar
Para lá de tudo.




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