13 outubro 2009

Protesto... ele há dias assim






Protesto... ele há dias assim

Quero protestar,
Gritar bem alto um desacordo
E enfim, a raiva entranhada
Que sinto espalhar-se pelas veias,
Dispersas, pelo caminho vibrante,
Circular, ritmado, rotineiro,
Que é o andar por aí.

Quero dizer lá bem do alto,
Empoleirado numa estrela do céu
E que todos possam olhar-me,
E ver-me, e sentir-me, que eu sigo
Contra todos e tudo, teimoso,
Elevado, pequenino, num infinito
Imenso e sem fim,
Que dificulta mais o ver que o ouvir,
Irradiando mais que queixumes
Projecto um sentir revolto
E sigo esbracejando, pulando,
Irreverente, discursando,
Incapaz de me amordaçar.

Quero abertamente dizer
O que esta alma reiteradamente
Faz transbordar e me queima
Desde o sonho sentido, à ilusão perdida
Desde o desejo tido, à paixão vivida
Desde o encanto aos delírios
Tudo ardendo, devorando, no espírito
Invadindo e chamuscando a razão
E bloqueando num olhar,
Incapaz de esconder, um vazio
Imenso, ao mesmo tempo cheio
De um calor, simultaneamente frio
De revoltas sistemáticas, sem fim,
Que existem, permanentemente,
Intoleráveis, apaixonadas,
Dentro de mim.

Tenho dias que protesto
As tragédias naturais, as tempestades,
Os vendavais e os cataclismos,
E denuncio os milhões de reféns,
Escravos, aprisionados, submissos,
Das iras, do sublime.
Outros dias, acordo numa revolta
De um sono mal dormido
Atacado por visões, e dramas,
Por sobressaltos, por imensas tramas
Em que os medos se apoderam
Da vida, as raivas invadem a negrura
De uma noite sem lua, sem estrelas,
E sem silêncios.
Às vezes, sem que perceba de mim
Como se estivesse longe, e me visse,
Distante, num espelho irreal,
Grito, furioso, por tudo isso que existe
E que vemos nas rotinas
Dos que passam, correm, cumprem,
São peças soltas de pesadas engrenagens
Que trabalhando, dia a dia, de sol a sol,
Incansáveis, rotineiros, curvados,
De manhã, à tarde e no escuro
Nas noites sem fim, ontem e hoje,
Amanhã e depois, seguindo pobres,
Cada vez mais desgraçados
Trabalho e engano, labuta e pobreza,
Bolsos enxutos de um tudo quimérico,
Numa verdade que nem é vida,
Nem existência, que se vai gastando
Naquele falso existir, de sobejos nadas,
Sem nada para os seus, menos para si,
Contando o tempo que passa nos dias,
Nas fracções inexistentes de tempo pago,
Até à hora fatídica de auferir miséria,
Lavando suores em troca de coisa nenhuma,
Manietado por missões, objectivos,
Classificações de serviço e de obediência,
Na escala sem fim desde o ser, a pouco valer,
Curvado às produções que se exigem
E tantas ocas determinações, que aceita
Vergado ao chicote que não se vendo, existe,
E sulca a carne, dilacerando de provocação,
Obrigado, violentado, destruído,
Obediente, tem de seguir
E se manter assim, sorridente,
Satisfeito, colaborante, lúcido,
Subserviente, sendo, mesmo assim,
Um pouquinho, muito pouco mesmo
Mais que zero,
Um número apenas, de uma engrenagem
Envolta em espessas e fundas misérias
Húmidas, nela escorregando a desgraça,
O maquinismo duro, a cadeia,
Sem o ser, o que devia ser, pessoa,
E mantendo-se igual, sempre,
Certo, muito certo, demasiado número,
Demasiado humano, seco, gasto,
Sem ilusões, sem ser, coisa nenhuma,
Pobre, lado a lado com um futuro amargo
De miséria prometido, descolorido,
Mas firme, inabalável, garantido
Para todo o sempre.

Tenho dias assim,
Em que quero protestar
E gritar bem alto toda esta revolta,
De uma sementeira estéril,
E de uma flor buscando as cores
Na ausência de pétalas erguidas.
Tenho momentos em que grito
Com tudo, e com nada, comigo mesmo,
Mesmo sem que possa ouvir-me,
Ou sentir insuportável esse arrazoado
De sonoridades em desafio,
Mas sigo, sigo sempre, persistente,
Teimoso e feroz, a maior parte das vezes
Gritando, denunciando,
Embandeirando nos ares pendões
Da descrença, do repúdio,
De uma rejeição total de tanta coisa
Que nos fica dentro esmagando,
De um mundo que nos sufoca,
De regras e procedimentos garroteando
Os quereres e as vontades mais nossas
E nos arrastando, impiedosamente,
Para o nosso fim.

Quero continuar protestando,
E dizendo bem alto, gritando,
A recusa, o repúdio, o não querer
Nem cair na submissão, não ser escravo
Não sentir o olhar vergado
Nem o peso da vergonha,
Quero continuar, hoje e sempre,
Pregador e guerreiro, uno,
Teimoso, a acreditar
Na força de rejeitar e dizer não.
Ele há dias assim…





05 outubro 2009

1000 - (Castelo de Ourém) - mil...











Hoje, dia 5 de Outubro de 2009, este blogue "Kampus de Ideas" foi espreitado, visto, pelo visitante português número mil. Um milhar parece-me um número digno de ser aqui registado. Mil compatriotas já entraram neste espaço e puderam ver e ler, ouvir músicas, que aqui coloquei esperando, no mínimo, colocar a quem venha, sendo sempre benvindos, algo com algum interesse e um mínimo de bom gosto e qualidade.

Espero tenha conseguido que pelo menos aqueles que por aqui deambularam, não tenham saído, decepcionados ou lastimando o tempo perdido.

A todos agradeço. Porque são a essência, o principal, as pessoas, que dão razão àquilo que se procura criar. A elas, que se sintam sempre benvindas, que voltem, e querendo, deixem as suas críticas e o que se lhes afigurar dizer.





01 outubro 2009

Resisto, de pé, aos ventos que passam...









As flores, ou cores, de um imaginado olhar


As flores, ou cores, do meu imaginado olhar

Corri mundos buscando loucuras de encantar
Coisas singelas, tímidas, espalhadas por aí,
Que podem dar vida e sonho, alegria, eu vi,
As flores, ou cores, de um imaginado olhar

O mundo é tudo isso, aqui e além, à nossa volta,
Quantas que não vislumbramos, mas estão ali,
Coisas alegres, intensas, suaves, que eu senti
Longe de tudo, e mesmo tão perto, à nossa porta

As flores, ou cores, de um imaginado olhar
Longe de tudo, e mesmo tão perto, estão bem ali,
Juntos dos passos que encetei, o que já vivi,
Embelezando os dias que sucedem sem parar

As flores, ou cores, do meu imaginado olhar
São ventos beijando cheios de cores, o meu andar





A Gente Vai Embora 🙏🏼