20 julho 2009

Para negar-te





Para negar-te

Preferiria ter de partir rumo a inóspitas paragens
Vedadas à luz, sem a carícia do sol e o beijo das estrelas
Caminharia de olhos vendados sobre agrestes abismos
Atravessaria cego mares obscuros e perdidos oceanos

Negar-te, seria o mesmo que despedaçar, trucidar
Todos os sonhos que durante muitos anos acalentei
Deitando às ondas agitadas de mares revoltos
Todo o bater descontrolado que guardo no coração

Para negar-te, necessitaria negar-me primeiro
A mim próprio, desde o meu corpo à alma
Inquieta, em sobressalto, gritando horrorizada
A impossibilidade de blasfemar, sem jeito

Preferia deixar de ver, ou mesmo de ouvir
Ou de andar, ou de ser eu mesmo, ou pensar
Entregar-me a uma existência sem vida, oca
Vazio de sentir, de desejar, de um viver

Negar-te, seria negar-me a mim, deixar de crer
Deixar de acreditar em cada dia que nasce
Deixar de respirar, e permanecer frio, hirto
Sem respirar, sem estar ou ser, assim, sem ti

Negar-te, é enlouquecer de todo, nada dizendo
Que possa ouvir-se com alguma valia, é um estar
Desprovido de tudo, e simplesmente permanecer
Mesmo sem alma, sem calor, sem sentidos

Para negar-te, todos os deuses que existem
E mesmo os milhões de seres que se dizem superiores
E, que vivem para lás dos mantos desconhecidos, de azul,
E de pradarias de poderes sobrenaturais, ocultas,
Poderiam apedrejar-me com esferas de lume
Poderiam rir-se, lançando-me tremendos sons, brutais,
Poderiam enfurecer-se com as mentiras que ousei,
E determinar o fim de uma provocação insensata
Buscando tirar-me a voz, fazer-me calar, para sempre
Retirando-me essa possibilidade leviana, cruel,
De, desprezando a própria essência da vida,
E a realidade do mundo, tentar, te negar.

Negar-te é deixar de existir, não falar, nada dizer
É deixar de ser, enfim… deixar de respirar, de viver.
Como poderia eu negar-te?...





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