10 março 2009

Depois do raio imenso de luz dourada...


Dizem umas crónicas antiquíssimas que ninguém em seu perfeito juízo deseja tocar, menos ler, que foi um momento, um instante, parecia um raio luminoso caindo dos céus e tocou-lhe...

A imagem da princesinha ficou envolta em milhentas cores que brigavam salpicando faíscas e lançando pós, muitos pós, que subiam aos céus com o vento।

Depois, a pouco e pouco, tudo poisou, as cores e os pós, a luz do raio foi perdendo o brilho, e a normalidade não pôde deixar de mostrar o hediondo feito।

Sem vida ali se quedou para todo o sempre aquela jovem lindíssima cujo único pecado foi entregar-se a um deus que buscava, igual aos homens, encontrar nos amores o encantamento sem fim, sem tamanho, sem regra, tendo, para isso, roubado um pouco por todo o mundo, vidas, corações e vontades। Deu-se a um deus que nunca poderia entender tudo o que uma entrega assim queria dizer.

Passaram tempos, e mais tempos, e correram histórias, que ultrapassavam mares e voavam nos céus। Vieram gentes de todas as terras, gente simples e nobres, e pobres em busca de sonhos e ricos ávidos de aventura, e mesmo um santo que garantia que o amor de verdade nunca morria. Vieram ver aquela que por amor foi feita amante ali, à luz do mundo, para que todos pudessem ver.

O religioso de longas e leves barbas brancas tocou-lhe mil e onze vezes com o cajado que trouxera de uma terra santa, esperando um ai, um coração a bater de novo, um sorriso, um abrir de olhos। Mas o ferro, teimou manter-se escuro, e frio. Cada vez mais queimado das geadas e das intempéries. E não mais mudou. Sempre recusando estaticamente, e fria, as carícias dos ventos, os beijos das águas das chuvas, os tocares sentidos de moças casadoiras, sequiosas de um sonho assim.

Ainda hoje, ali está, escura, fria, dura... sem alma, sem sonhos aquela que se entregou um dia a um amor sem sentido com um deus que só queria perder a beleza singela de um sorriso।

Contam ainda, as mesmas crónicas escondidas nas masmorras do castelinho à beira do rio, que o próprio deus ficou mortalmente aprisionado desse amor que julgava nunca poder sentir। Tendo sido tocado pelo mesmo raio que lançara àquela que se entregando não pudera fazê-lo, a ele, sentir o que aos homens era o bem supremo. Um enamoramento que era fúria, de vida, era bravura nas batalhas, coragem na luta, audácia nos feitos, ânimo nas atribulações, luz, …

Histórias... coisas de loucos, creio।

Deuses e mulheres tocadas por raios... em nome de um qualquer amor? Ahhh, loucuras, só pode...
Roubada entre as crónicas existentes na masmorras do castelinho do tal rei (que se não deve recordar, nem mesmo revelar aos que vivem...) uma espécie de gravura reluzente mostra-nos como ficou o mundo depois da ira que levou o deus enlouquecido de amores a lançar o raio doirado de luz।

Tudo se transformou, parece, numa irrealidade onde o brilho esconde o fim de tudo.

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